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Crítica: Nossa Culpa encerra a trilogia Culpables com falta de intensidade

Nossa Culpa encerra a trilogia “Culpables” com beleza visual e química entre os protagonistas, mas perde ritmo e emoção ao tentar condensar a intensidade dos livros de Mercedes Ron em pouco tempo.

Viver o fim de uma história que marcou uma geração de leitores nunca é simples – e Nossa Culpa (Culpa Nuestra), último capítulo da trilogia baseada nos livros de Mercedes Ron, é a prova disso. O filme chega ao Prime Video como o grande desfecho da saga de Nick e Noah, prometendo emoção, drama e redenção. Visualmente, ele cumpre o que promete: uma fotografia impecável, trilha sonora boa e uma química inegável entre Nicole Wallace e Gabriel Guevara. Mas, se os olhos se encantam, o coração sente falta do que o roteiro não entrega: profundidade e tempo para respirar.

Um encerramento apressado

O longa tenta condensar em duas horas uma trama complexa e cheia de nuances — e acaba sacrificando a intensidade que fez o livro ser tão amado. É o típico desafio das adaptações literárias: transformar centenas de páginas cheias de emoção, conflito e amadurecimento em um tempo limitado de tela. Quando o roteiro acelera demais, o que era para ser um clímax profundo se transforma em uma sequência de cenas bonitas, mas sem o respiro necessário para o público sentir junto.

Essa falta de tempo para desenvolver emoções não só afeta a narrativa, mas também impacta diretamente quem mais esperava pelo desfecho: os fãs dos livros. Leitores costumam ser exigentes, porque já conhecem cada detalhe, cada diálogo e cada olhar que construíram mentalmente durante a leitura – e quando o filme não entrega essa densidade, a frustração é quase inevitável. O primeiro e o segundo filmes conseguiram equilibrar melhor essa transição entre página e tela, dando ritmo e emoção sem atropelar o que torna “Culpables” tão cativante.

Mas Nossa Culpa, o capítulo final que prometia ser o mais intenso da trilogia, acaba soando apressado demais, bonito por fora, mas vazio de dentro. A direção aposta em símbolos visuais para representar o amadurecimento do casal, mas o espectador sente que as emoções – apesar de presentes – não têm tempo de florescer. O resultado é um final “ok”, mais simbólico do que sentido, que fecha a história, mas sem o impacto que os fãs esperavam há tanto tempo.

Química impecável, mas pouco desenvolvimento

A química entre Noah (Nicole Wallace) e Nick (Gabriel Guevara) continua sendo um dos pontos mais fortes da trilogia. Os atores carregam os olhares, as tensões e a conexão do casal com naturalidade.

Entretanto, Nossa Culpa explora mais os personagens secundários, do que o próprio casal principal. Falta tempo para o público acompanhar a evolução deles de forma convincente. Mesmo mais maduros, Nick e Noah perdem espaço narrativo dentro do próprio desfecho.

Cortesia / Prime Video

As principais diferenças entre o livro e o filme

Também notamos uma série de mudanças significativas entre o livro de Mercedes Ron e a versão cinematográfica. Algumas são compreensíveis dentro do formato de filme, mas outras acabaram esvaziando o impacto emocional da história.

1. O sequestro

No livro, quando acontece o sequestro do bebê do casal, Nick está em Nova Iorque (no filme é mostrado Londres), enquanto Noah está sozinha em casa. No filme, é Nick que aciona o botão de emergência enquanto se recupera em casa, no livro, é Noah que aciona o botão de emergência que ele havia instalado.

Achamos essa mudança necessária, onde mostra um Nick mais vulnerável e presente ali, com a família.

2. A gravidez e o final

No livro, Noah revela a gravidez por mensagem – um momento carregado de tensão e emoção que desencadeia um dos maiores conflitos. Já no filme, a descoberta acontece apenas no final, e a reconciliação entre o casal surge de forma rápida e sem o mesmo impacto emocional. No livro, o Nick acompanha todo o processo da gestação, inclusive o parto, e no filme isso não foi explorado. Além disso, o longa omite detalhes importantes, como Noah falando para a mãe sobre a gravidez e a revelação do nome do bebê, Andrei, que simbolizava um novo começo para o casal.

3. Presentes e simbolismos

O icônico Porsche vermelho é dado no aniversário de Nick no livro – e não no casamento, como no filme. Além disso, o presente da casa que Nick dá para Noah, que simboliza estabilidade e recomeço, é omitido na adaptação, retirando um dos gestos mais simbólicos da narrativa.

4. Relação com Sofia

No livro, é Sofía quem propõe tornar público o relacionamento com Nick, mas ele recusa de imediato para não ferir Noah. No filme, é Nick quem toma a iniciativa, invertendo a dinâmica e tornando sua personalidade menos coerente.

5. O tempo de separação

Enquanto no livro o casal fica 10 meses afastado, o filme amplia esse período para 4 anos – mas não temos um desenvolvimento deles longe um do outro e nem ao decorrer do filme.

Conclusão:

Mesmo com todos os cortes e mudanças, Nuestra Culpa mantém uma mensagem de crescimento e perdão. Mas o ritmo atropelado e a falta de espaço para as emoções tornam o final mais simbólico do que sentido. A produção entrega um encerramento bonito, mas não tão emocional quanto o livro. Os fãs do livro vão reconhecer fragmentos do que amam, mas sentirão falta da profundidade, da dor e da transformação que a página oferece e a tela, dessa vez, não conseguiu acompanhar.

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