Gabriela Andrada fala com sinceridade sobre os desafios das redes sociais, seus personagens, revela bastidores emocionantes do filme Trinidad (2026) e de “Peça-me o Que Quiser”. Leia a entrevista completa abaixo.
Desde o início da carreira, Gabriela Andrada mostrou um talento natural para papéis intensos e cheios de autenticidade. Sua jornada nos cinemas começou a ganhar destaque com Sofia, em Culpa Sua e Nossa Culpa, personagens secundárias, mas essenciais para o desenvolvimento das tramas. Mesmo em papéis coadjuvantes, a atriz já demonstrava domínio emocional e presença marcante, conquistando público e crítica.
De “Peça-me o que quiser” à consagração como atriz versátil
O destaque se expandiu para Judith Flores, em Peça-me o que quiser. Na história, Judith é uma jovem secretária que tem sua vida transformada ao se envolver com um empresário alemão em um jogo de sedução e descobertas. O papel rendeu elogios e controvérsias, especialmente pelas cenas de nudez e pelo tom erótico do filme, mas também consolidou Gabriela como uma intérprete destemida, capaz de mergulhar em personagens complexas.
“Há muito ódio que as pessoas poderiam simplesmente guardar para si”, comenta a atriz sobre as críticas e o hate nas redes sociais.
O futuro em “Trinidad (26) promete intensidade
Agora, Gabriela se prepara para um novo salto na carreira com Trinidad (2026), um filme de época que mistura drama, comédia e faroeste. Ela dará vida a uma mulher à frente de seu tempo, que quebra convenções sociais, monta a cavalo e transita por emoções intensas, tanto físicas quanto emocionais. O papel promete ampliar ainda mais o repertório da atriz e surpreender os fãs com sua versatilidade.
Bastidores, moda e autenticidade: o olhar de Gabriela Andrada
Em entrevista exclusiva ao No Backstage, Gabriela Andrada fala sobre como lida com o ódio online, os bastidores do figurino de Trinidad e o processo de aprendizado físico para o papel. Ela também reflete sobre sua conexão com moda e fotografia, ferramentas que, segundo a atriz, ajudam a moldar cada personagem com mais profundidade.
Entre reflexões sinceras e momentos leves, Gabriela reafirma sua filosofia: a força da atuação está na presença, na verdade e na coragem de se expor. E é justamente essa entrega que a coloca no radar daqui pra frente.
Leia a entrevista completa abaixo:
Isabella: Se tiver tudo bem, quero falar sobre um projeto seu, “Peça-me O que Quiser”. O público teve uma reação muito intensa em relação à personagem Judith. Como você lida com as repercussões disso?
Infelizmente, eu vejo os comentários. Acho que a maioria de nós vê. As pessoas escrevem o que querem na internet como se fosse nada. Elas acham que não há repercussões porque somos “pessoas famosas“. Podemos até ser, mas antes de tudo, somos pessoas. Estamos nas redes sociais, temos amigos, e esses amigos veem o que é dito. Nossas famílias também veem. Entramos em qualquer site e aquilo aparece, e dói. Há muito ódio que as pessoas poderiam simplesmente guardar para si.
Tem uma frase – acho que é do Woody Allen (não apoiamos o Woody Allen, só a frase!) – que diz: “Opiniões são como bundas: todo mundo tem uma, mas não precisa mostrar.
Isabella: (Risos) Essa também é uma frase famosa aqui no Brasil!
Ah, então é brasileira! Ainda bem, não quero dar o crédito a ele. Mas veja bem, não estou dizendo que as pessoas não possam ter opinião. Eu adoro crítica, boa crítica. Gosto de ler críticas de cinema, opiniões de pessoas que eu admiro. Não espero que tudo seja positivo, de forma alguma. Mas é preciso entender quando o que se escreve vem de uma consideração genuína, boa ou ruim, e quando é algo escrito apenas para ferir alguém. Principalmente quando é para diminuir uma mulher, o que acontece muito.
Isabella: Sim, e muitas vezes isso vem de outras mulheres também, né?
Exatamente. Mas espero que isso mude com o tempo. Acho que as coisas estão melhorando. As novas gerações estão curando algo, com certeza. Pense: nossas mães, nos anos 90, cresceram com revistas dizendo que Kate Winslet era “estranha” porque usava tamanho 38 ou 40. É absurdo! Diziam que ela era “grande demais” para ser vista. Elas cresceram com tanto ódio de si mesmas, tanta rejeição aos próprios corpos.
E agora, essa geração, mulheres de 50, 60 anos, vão às redes sociais sem entender totalmente o peso do que escrevem, e despejam esse veneno que aprenderam durante anos. Jogam sobre as mulheres mais jovens, porque não gostam de si mesmas e não conseguem aceitar que uma mulher jovem goste de quem é, que seja diferente do padrão. Mas sou esperançosa. Acho que as próximas gerações vão mudar isso.
Isabella: Sim, com certeza. E essa foi uma resposta incrível!
Desculpa, falei demais!
Isabella: De forma alguma. Foi uma ótima resposta. E já que estamos falando do passado, quero agora falar de um projeto seu que se passa no século XIX, o filme Trinidad, que mistura comédia, drama e faroeste. Quão desafiador é, para você como atriz, adaptar sua linguagem, gestos e comportamento para interpretar alguém de uma época tão diferente da nossa?
Essa personagem, em Trinidad, é bem complicada. É um filme de época, mas com muitas licenças criativas. É um filme muito brincalhão também. Tem comédia, guerra, explosões, sangue… e, de repente, vira um suspense total. Mistura todos os gêneros – um pouco como Django, de Tarantino.
Ela começa como uma dama respeitável e enlouquece completamente. Vira… não exatamente um “moleque”, mas assume um papel masculino, porque precisa proteger pessoas. Ela nunca se conectou com os valores femininos da época. Então decide usar calças, montar a cavalo, usar roupas de homem. Foi muito divertido. Mas ela tem uma atitude muito peculiar, é quieta, concentrada, cheia de fúria, fala pouco, mortal e silenciosa. Foi um desafio, porque nunca tinha feito uma personagem que aparecia tanto e falava tão pouco.
Além disso, tive que aprender a montar a cavalo. E aconteceu algo estranho… eu não sabia montar, e passei horas e horas em cima do cavalo. Meu instrutor disse que o que aconteceu comigo só ocorre com uma em cada cem pessoas: fiquei com feridas no bumbum! (risos) Sangrava, formou casquinhas… foi horrível e coçava demais.
Acho que a fricção entre a sela, o jeans e minha pele, que é super sensível, causou tudo. Cocei e começou a sangrar de novo. Então eu estava andando no set, com tudo isso doendo (risos). Desde então, nunca mais montei a cavalo. Trauma total.
Isabella: (Risos) Imagino! E nas produções de época, os figurinos são completamente diferentes da nossa vida cotidiana. Você sente que as roupas ajudam a entrar no personagem?
Absolutamente. São essenciais. Elas mudam o jeito de falar, de andar. Acho que te vestem de dentro para fora. Quando consegui o papel, comecei a me vestir diferente em casa, jeans, botas de cowboy, para me acostumar com outro tipo de postura. E no momento em que vesti o figurino completo, acreditei totalmente no clima. Antes, eu sentia que algo estava faltando, que não via a personagem em mim. Quando me sujei de terra, suor e casquinhas todos os dias, pensei: “Ok, agora eu acredito.”

Deborah, acho que era o nome dela, a figurinista. O trabalho dela foi incrível. Muitas das roupas foram feitas à mão. Eles buscaram técnicas originais de tingimento com plantas e terra, e costuras tradicionais. As botas, os couros, os lenços… tudo artesanal. Merecem todos os prêmios possíveis.
Isabella: Sim, isso faz toda diferença para o ator! E já que estamos falando de moda, além de atriz, você também é modelo, o que não surpreende, porque você é lindíssima.
Obrigada!
Isabella: Ser modelo permite explorar diferentes lados de estilo, emoção e expressão. Você disse que é muito expressiva… sente que o trabalho como modelo ajuda na atuação?
Acho que sim. Mas não sou uma modelo “padrão”. Faço campanhas de joias, às vezes de roupas. Quando era criança, quis tentar modelar, mas não cresci tanto. (risos) Mesmo assim, adoro posar com produtos, é divertido e me ensina muito sobre mim mesma. É parte do trabalho do ator também, envolve vaidade, sim, mas é preciso autoconhecimento. Você tem que conhecer o seu rosto, suas expressões, entender como a câmera te vê. Às vezes você acha que está transmitindo algo e a câmera mostra outra coisa. Precisa saber como a luz funciona, porque ela muda a emoção que aparece.
Aprendi muito disso posando. Ainda tenho muito o que aprender, mas chega um momento em que isso se torna natural, você sabe o que funciona melhor para transmitir o que quer. Às vezes, uso a fotografia para explorar personagens que ainda não tive oportunidade de fazer em filmes ou séries. Crio ensaios com fotógrafos amigos — como Asi Al-Qatar ou Selim Banhil, e brinco com papéis, roupas, estilos. É divertido, um jogo de interpretação.
Isabella: Isso é incrível!
Sim, adoro.
Isabella: E falando em personagens, entre seus projetos recentes e futuros, há algum papel que você ainda quer muito explorar?
Nossa, muitos! Quero fazer de tudo, porque sou uma pessoa muito brincalhona e gosto de desafios. Quero descobrir o que ainda não sei fazer. Na semana que vem, começo a filmar uma série de TV, um thriller, algo totalmente novo para mim. Está lindamente escrito, muito emocionante. Estou super grata por esse trabalho.
Também quero fazer mais dramas de época, mas tipo Maria Antonieta, sabe? Adorei fazer um faroeste, não esperava isso na minha carreira, mas agora quero mais produções assim, com figurinos, perucas… E um dia, quero fazer comédia. Uma comédia bem sombria, de humor ácido.
Isabella: Interessante! E olhando para a sua carreira até agora – cinema, TV, moda, qual é a essência da Gabriela que você quer levar para cada personagem?
Tive muita sorte até aqui. Estou apenas no meu sexto ano de carreira, mas a indústria tem sido muito generosa comigo. Tive oportunidades incríveis e bem diferentes, explorando vários lados meus. Sou muito grata.
Acho que o que tento levar a todos os meus personagens é um senso de presença — de estarem muito vivos, intensos, com um fogo interior. Quero que pareçam realmente presentes diante da câmera.
Isabella: Lindo. E para terminar, o público brasileiro parece ter se conectado bastante com seus personagens. Você tem vários fãs aqui. Há algum comentário ou reação que te marcou, mostrando o impacto do seu trabalho fora da Espanha?
Sim. Eu leio tudo o que me mandam, talvez não devesse, mas a maioria é tão bonita que acabo lendo. Vejo as fotos, os stories, e é tão estranho… porque, na minha cabeça, sou só uma garota fazendo o meu trabalho, me divertindo com meus amigos e meus cachorros.
E aí você entra nas redes e percebe que, de alguma forma, fez algo que ficou na memória das pessoas. Isso é um presente enorme. Fazer filmes é o presente de deixar registros dos seus anos, ter uma lembrança eterna da sua juventude. É lindo. Recentemente recebi um retrato maravilhoso de um fã, não foi o primeiro, e também mensagens que me emocionaram muito.
Alguns anos atrás, sofri um acidente de carro e machuquei meu rosto. Quebrei o maxilar, perdi dentes e passei mais de dois anos fazendo cirurgias reconstrutivas. Nesse tempo, postei fotos sem dentes, tentando enfrentar meu medo e dizendo: “Olha, essa sou eu agora, e tudo bem.”

Recebi muitas mensagens de pessoas dizendo: “Também perdi o braço”, “também não tenho dentes”, “quebrei o nariz”… E disseram que minhas fotos as fizeram sentir menos sozinhas, menos feias. Eu mesma me sentia feia, mas ver essas reações me deixou muito fortalecida. Pensei: “Tudo bem, ainda sou bonita sem dentes.” (risos)
Isabella: Isso é lindo, ver como você inspira as pessoas e recebe tanto carinho de volta. Antes de terminarmos, você poderia deixar uma mensagem para seus fãs brasileiros?
Claro! Nunca estive no Brasil, mas quero muito ir. Quero ver tudo. Acho que as pessoas mais lindas do mundo estão aí, essa mistura maravilhosa. Muito obrigada pelo apoio, por assistirem ao que fazemos. Espero ver vocês em breve.
isabella: Muito obrigada, Gabriela. Foi um prazer conversar com você.
O prazer foi meu! Você é muito doce e super preparada. De verdade, fez uma ótima pesquisa, não é algo que a gente vê todos os dias.
isabella: Muito obrigada! Desejamos todo sucesso e esperamos conversar de novo em breve sobre seus novos projetos.
Com certeza! Muito obrigada.
Confira a primeira parte da entrevista com Gabriela aqui!
