Crítica de “Diga-Me Baixinho” (Prime Video): análise do filme baseado no livro de Mercedes Ron, explorando narrativa, triângulo amoroso e incluindo confirmação de sequência.
O Prime Video continua sua investida no universo literário de Mercedes Ron com Diga-Me Baixinho, primeiro capítulo da nova trilogia da autora. A produção chega ao catálogo carregando forte apelo entre leitores e um compromisso evidente de construir uma narrativa emocionalmente acessível, envolta em estética contemporânea e atmosfera juvenil. O resultado é um filme competente em estrutura, mas que ainda carece da intensidade dramática necessária para marcar presença no já saturado mercado das adaptações YA (Jovem Adulto).
A plataforma já confirmou que o segundo filme, “Diga-Me em Segredo”, está em desenvolvimento, e isso reforça que este primeiro longa funciona quase como uma introdução a uma dinâmica que ainda será aprofundada.
O filme desenvolve tudo o que propõe?
Há méritos claros na maneira como o roteiro apresenta Kamila Hamilton (Alicia Falcó) e os irmãos Thiago (Fernando Lindez) e Taylor Di Bianco (Diego Vidales). O longa tem uma narrativa ok e um fluxo coerente, evitando o excesso de informação que frequentemente compromete adaptações do gênero. No entanto, a história raramente ultrapassa a superfície de seus conflitos.
O filme estabelece tensão, traumas passados e proximidade entre os personagens, mas opta por abordá-los de forma mais funcional do que emocional. O que poderia ser um mergulho em dilemas internos, culpa, ambiguidade afetiva, vínculos antigos, se transforma em uma leitura mais direta, por vezes simplificada, dos temas do livro. Isso não compromete a compreensão do público, mas reduz o impacto dramático. Trata-se de uma adaptação que entrega a estrutura, mas não necessariamente a densidade.
Atuações que funcionam – e o que não funciona
Entre o elenco, Fernando Lindez é quem mais se destaca, na minha opinião. No papel de Thiago, ele entende bem o arquétipo do bad boy com camada emocional, entregando vulnerabilidade sem perder a firmeza do personagem. Seu desempenho adiciona nuances que ajudam a sustentar momentos dramáticos, mesmo quando a direção não explora todo o potencial que ele pode oferecer.
Kamila e Taylor também têm uma presença boa, mas a dinâmica coletiva do trio ainda não encontra o equilíbrio perfeito. Falta aquela química mais orgânica, natural e gradativa que costuma ser o motor de narrativas baseadas em triângulos amorosos. A interação funciona, mas raramente transcende.
Importante destacar que isso não se deve à falta de compatibilidade entre os atores, tampouco a falhas de interpretação. O ponto fraco às vezes se torna o roteiro, que exige intensidade emocional sem, antes, pavimentar o caminho até ela. A história pede paixão, conflitos densos e picos dramáticos, mas oferece pouca construção emocional ao longo do percurso.
Assim, quando chegam os momentos mais explosivos, como em algumas cenas do Thiago e Kamila, por exemplo, eles soam abruptos, quase “acelerados”, justamente porque falta o desenvolvimento gradual que faria essas cenas ganharem peso. É como se o roteiro dissesse aos personagens: “Agora sintam tudo de uma vez”, mas sem fornecer os diálogos, interações e evolução necessários para que essa intensidade realmente faça sentido. Este é um problema recorrente nas adaptações YA: tempo limitado para desenvolver relações, pouco espaço para sutileza psicológica e uma dependência de códigos visuais e clichês que não substituem construção emocional.
Conclusão
Diga-Me Baixinho é um filme digno dentro da proposta que abraça: acessível, visualmente agradável e com personagens capazes de desenvolver arcos mais densos no futuro. Ele não é um produto transformador, mas tampouco decepciona. É um primeiro capítulo sólido, ainda em construção, que demonstra potencial, especialmente agora que a sequência está confirmada.
A trilogia encontra maior força dramática adiante. E isso é um ponto positivo: o melhor do universo de Mercedes Ron talvez ainda esteja por vir. Mas e vocês, o que acharam?
