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CRÍTICA | Filhos do Ódio: Filme tenta fugir do clichê do “branco salvador”

Por: Bruna Da Nóbrega

Após filmes recentes como “Infiltrado na Klan” e “Judas e o Messias Negro”, a ideia de uma produção atual sobre o racismo no Sul dos Estados Unidos durante os anos 1960, com um homem branco como protagonista, poderia ser intimidadora, mas “Filhos do Ódio” (“Son of the South”) se esforça para não cair no clichê do “branco salvador”.

O time por trás das câmeras ajuda. O longa tem produção executiva de Spike Lee, vencedor do Oscar de 2019 justamente por “Infiltrado na Klan”, e é dirigido por Barry Alexander Brown, que trabalhou com Lee como editor em “Infiltrado”.

“Filhos do Ódio” é baseado em uma história real e acompanha Bob Zellner (Lucas Till), um jovem branco do Alabama e neto de um membro da Ku Klux Klan que decide questionar a segregação racial nos Estados Unidos no auge das atividades de grupos supremacistas brancos.

Influenciado por um acontecimento marcante vivido pelo pai, que também era membro da KKK, Bob se pergunta sobre a diferença de tratamento que recebeu desde que era pequeno. Ele também se determina a ajudar a comunidade devido a uma culpa que carrega desde jovem, quando foi pressionado a mostrar a qual lado pertencia agredindo gravemente um menino negro.

Aqui também vale ressaltar a ótima atuação de Lucas Till, que sabe parecer charmoso, ingênuo e determinado como Bob, ao mesmo tempo em que se dedica ao sotaque do sul norte-americano. A química dele com a personagem de Lex Scott Davis, Joanne, também merece destaque.

Ao dar detalhes da vida de Zellner, o filme ressalta sua importância histórica, ao mesmo tempo em que não a idealiza. Ele é reconhecido como um jovem com muitos privilégios desde cedo, suas atitudes e falas racistas ao longo da vida são expostas e, em um determinado momento do filme, ele mesmo percebe que está recebendo mais atenção da mídia do que deveria – ele nunca foi líder do movimento, mas como era o único branco no meio, era reconhecido por muitas pessoas como tal.

Evidenciar esse aspecto é o maior acerto do longa, que tomou como base o livro biográfico “The Wrong Side of Murder Creek”, escrito pelo próprio Bob Zellner ao lado da ativista e advogada de longa data da discriminação racial, Constance Curry. Zellner também foi consultado durante a produção do filme.

Ainda é interessante como o drama traz outras figuras importantes como John Lewis (Dexter Darden), líder do movimento por direitos civis que faleceu em julho de 2020, e a lendária Rosa Parks (Sharonne Lanier), que ficou conhecida após se recusar a dar seu lugar a um homem branco em um ônibus. Em uma das melhores cenas da produção, ela ironiza, durante um jantar, a ingenuidade de Zellner por achar que aquele momento foi só um acaso e não uma decisão consciente dela.

Em pouco menos de duas horas, é possível ter um panorama abrangente tanto da vida de Bob Zellner em sua juventude, como também do clima intolerante que rodeava o sul dos Estados Unidos nos anos 1960. É um importante alerta sobre como evoluímos positivamente, mas ao mesmo tempo em como ainda estamos tão próximos ao horror que a comunidade sofreu por tantos anos – afinal, Zellner ainda está vivo e continua seu trabalho como um dos mais respeitados porta-vozes do movimento dos Direitos Civis americanos aos 82 anos.

O drama biográfico “Filhos do Ódio” chega às plataformas digitais no dia 25 de junho e estará disponível para compra e aluguel na Claro Now, Vivo Play, Sky Play, iTunes/Apple Tv, Google Play e YouTube Filmes.

Confira o trailer aqui!

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