Crítica: Fernanda Elisa.
Entrevista: Aline Mendes
As cores pastéis também podem ser desagradáveis.
A Nuvem Rosa, pode parecer bonita a primeiro momento, com sua cor rosa bebê bem agradável aos olhares.
Engana quem pensa que por trás de toda sua cor fofa ela signifique algo bom, em um mundo completamente distópico isso causa tremendo medo.
O longa foi escrito em meados de 2017, com produção feita em 2019, isso está muito bem colocado em seus créditos iniciais do longa-metragem.
Dado importante logo no primeiro momento, somos apresentados a uma pandemia global, semelhante a que vivemos hoje em dia.
Estas semelhanças podem causar inclusive uma frase ecoando em nossas cabeças “Espera aí, isso parece com o que estamos vivendo!”.
Reprodução
No filme acompanhamos Giovana (Renata de Lélis), que está presa em um apartamento com Yago (Eduardo Mendonça), um cara que havia recém conhecido em uma festa. Enquanto esperam a nuvem passar, eles precisam viver como um casal. Ao longo dos anos, Yago vive sua própria utopia, enquanto Giovana sente-se cada vez mais aprisionada.
Vivenciaram o início da pandemia, passaram por várias mudanças, amadurecimentos, vídeo chamada, cursos, períodos de brigas, conflitos, saúde mental, aniversários, morte… Tudo isso vem junto na bagagem de uma pandemia.
Resta esperar o momento que sairemos dela e lembrarmos disso como tempos ruins em que vivenciamos e superamos.
O filme marca a estreia na direção de Iuli Gerbase, que já assinou seis curtas-metragens selecionados para diversos festivais internacionais como TIFF e Havana Film Festival.
Divulgação | Iuli Gerbase
Conversamos com a diretora do filme, Iuli Gerbase, e ela respondeu algumas questões sobre o filme que foi destaque em Sundance 2021. E justamente por isso “A Nuvem Rosa” foi destaque na imprensa internacional recebendo elogios até da Variety .
Confira nossa entrevista abaixo:
A Nuvem Rosa foi gravado antes da pandemia e mostra os conflitos que surgem quando somos obrigados a ficar em casa por muito tempo. Mas o quanto essas narrativas do filme podem ajudar na vida real? E que mensagem você acha que o filme quis passar na época?
Iuli: Tem sido muito legal ouvir de algumas pessoas que assistiram A Nuvem Rosa em festivais que o filme foi de certa forma terapêutico para elas, porque conseguiram processar alguns sentimentos vividos na pandemia ao se identificarem com os personagens na tela. Não costumo querer passar uma mensagem específica com meus filmes. A ideia deste filme é gerar uma reflexão sobre o que significa liberdade para cada pessoa.
Como surgiu seu envolvimento com direção? Você sempre quis trabalhar com isso?
Iuli: Quando eu entrei na faculdade de cinema, apenas tinha certeza que gostaria de fazer roteiros, porque desde pequena gostava de escrever. A ideia de dirigir surgiu um pouco depois, mais para o final do curso. O que gosto na direção é poder pensar em tudo um pouco: arte, fotografia, figurino, interpretações, ritmo, etc. E gosto da tarefa de me comunicar com toda equipe para atingirmos o filme que temos em mente.
A cor rosa é associada a compreensão, emoções e afeto. Vocês pensaram em alguma característica para escolherem a cor da nuvem?
Iuli: Para mim, a cor rosa sempre foi a cor selecionada para as meninas, desde que somos bebês. A nuvem rosa do filme tem um tom claro e bonito, mais poético e sedutor do que assustador. Porém, com o passar do filme, vemos que ela realmente é perigosa, além de se tornar uma tortura para a personagem feminina, a Giovana. Logo, a ideia foi trabalhar com o sufocamento que a nuvem estabelece. Ela faz Giovana seguir passos tradicionais estabelecidos para mulheres que ela não gostaria de seguir.
Como foi o desenvolvimento desta nuvem tóxica? Ela veio por uma causa específica? Você pretende fazer algum spin-off explicando o porquê e uma resolução para ela?
Iuli: Não pretendo explicar no futuro porque não possuo resposta definitiva. Gosto que cada um pode estabelecer para si o significado da nuvem, assim como o motivo do surgimento dela. Adoro ouvir diferentes versões para esta pergunta.
Após ser selecionado para o Festival de Sundance 2021, o longa tem atraído muitos olhares da imprensa especializada e recebendo críticas positivas. Como é pra você ver essas críticas positivas e aceitação do longa? Você esperava isso?
Iuli: Foi incrível acompanhar as críticas e a resposta do público nas redes sociais. Com os curtas, era muito raro receber uma crítica. Com Sundance, o filme recebeu muitas críticas, e a grande maioria muito positivas. Fico feliz que o trabalho e esforço da equipe foram reconhecidos. É tão difícil fazer cinema no Brasil. Sempre exige certo malabarismo e muita dedicação. Então ter respostas positivas e saber que o nosso trabalho está tocando pessoas é muito gratificante.
A pré-estréia do longa-metragem acontece em alguns cinemas selecionados hoje, 26.
Contará também com estreia exclusiva no Première Telecine em 2 de setembro.