Exibido na 43ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, e no Festival do Rio, ambos em 2019, já faz um tempo que “Encarcerados” está guardado, esperando pelo momento certo para ser liberado para o grande público. É no próximo dia 26 de agosto, dois anos depois, que o documentário finalmente chega aos cinemas.
O longa é inspirado no livro “Carcereiros”, de 2012, do Drauzio Varella, assim como a série de mesmo nome de 2017 – e ele também pegou emprestado alguns nomes dos bastidores: Claudia Calabi e Fernando Grostein, que estiveram por trás da série, são responsáveis pela direção ao lado de Pedro Bial.
Filmado em oito penitenciárias de São Paulo, “Encarcerados” traz um panorama do sistema prisional sob a perspectiva principal dos carcereiros, com entrevistas de ex-agentes penitenciários, suas famílias e outros trabalhadores. Inicialmente, inclusive, a produção parece tendenciosa demais: retrata os funcionários como mocinhos que vivem o tempo todo com medo do que pode acontecer durante o expediente.
No entanto, a perspectiva logo muda, especialmente ao retratar o massacre do Carandiru, quando uma intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo causou a morte de 111 detentos, e outros casos que mostram a brutalidade dos carcereiros contra os detentos. Justamente por trazer assuntos tão delicados de forma direta, a produção do filme precisou trabalhar com muito cuidado para conseguir conquistar a confiança dos entrevistados.
Durante uma coletiva de imprensa online, realizada no dia 16 de agosto, o Dr. Drauzio Varella explicou o trabalho para lidar com os ex-agentes penitenciários. “Eles são funcionários públicos e passam o tempo todo preocupados com o que vão dizer. Eles são muito desconfiados o tempo todo e só quando se ganha a confiança deles que é possível conseguir os depoimentos que (os diretores e equipe) conseguiram no filme”, detalhou.
De acordo com a diretora Claudia Calabi, esse trabalho envolveu uma relação muito transparente e honesta com todas as fontes ao longo do processo. Na coletiva, ela relatou que eles explicaram muito antes das entrevistas tudo o que seria feito, deram a opção de manter os entrevistados anônimos e também dividiram os resultados da edição, mostrando os cortes finais para que nenhuma fala fosse tirada de contexto.
O processo valeu a pena e possibilitou um documentário com muitas camadas: no final, não há mocinhos ou vilões e, sim, uma realidade brasileira que muitas vezes não chega às manchetes dos jornais. O longa provoca uma reflexão sobre o sistema penitenciário brasileiro, mostrando os elos entre o Estado e o crime e os contrastes entre o exterior e o interior dos presídios, com cenas tão cruas e honestas que demoram para serem digeridas.
Para o diretor Fernando Grostein, esse era um dos maiores objetivos. “Eu acredito que a informação e o conhecimento libertam. É importante mostrar o dia a dia dos carcereiros e dos detentos. As pessoas não param para refletir o que isso significa: ‘tem que prender e bater’. A gente mostra como não funciona o sistema atual. Ele é lotado, prende mais que sua capacidade. Ao prender mais, ele perde a habilidade de reabilitar”, resumiu durante a coletiva.
“Encarcerados” chega aos cinemas em 26 de agosto. Distribuído pela Gullane, o filme é uma produção da Spray e Gullane, em coprodução com Globo Filmes e GloboNews.
Confira o trailer abaixo: